Empreendedorismo Social

Por Jean Marcos da Silva

O empreendedorismo social-ES parece ser a ‘bola da vez’ nos noticiários, discussões do senso comum e, claro, entre os especialistas em pensar (pesquisadores e acadêmicos). “Empreendedorismo social não visa lucro, mas questões sociais”, diz o porta-voz do senso comum; “Trata-se de negócios com impacto social, melhorando a vida da comunidade local em um mundo globalizado”, afirmam os pesquisadores; e, os jornais noticiam: “Empreendedorismo Social cresce entre jovens no Brasil”. Quem estaria correto quanto ao conceito do termo? E o que esperar em termos de tendências para tais modelos de negócios no pós-covid 19?

Para Petrini, Scherer e Back (2016) o ES são modelos de negócios com algum impacto social preocupados com a equação do lucro social e do lucro econômico. Logo é mito o que diz o senso comum sobre não visar lucros, embora Canestrino, Cwiklicki e Magliocca (2019) defendam que o benefício social é a sua primeira missão. Petrini, Scherer e Back (2016) defendem que estes negócios são inclusivos trazendo a comunidade local ou para participar do processo produtivo como trabalhadores/ fornecedores ou ainda como clientes. Petrini, Scherer e Back (2016) citam o Grameen Bank, o banco dos pobres, fundado por Muhammad Yunus, em Bangladesh, na década de 80 com o objetivo de conceder microcrédito a pessoas carentes da comunidade local, que não teriam acesso a crédito pelos bancos tradicionais.

Nesta mesma linha, Canestrino, Cwiklicki e Magliocca (2019) desenvolvem uma pesquisa na Itália com o objetivo de identificar farores-chaves para uma criação bem-sucedida de valor social. Os autores analisam o caso específico da cooperativa La Paranza, localizada na Rione Sanità, um bairro da periferia de Nápoles na Itália, com muita riqueza cultural e arquitetônica e forte desigualdade social e desvalorização do patrimônio cultural e arquitetônico. La Paranza surge para resolver esses problemas.

Envolve jovens da comunidade local como trabalhadores e reconstitui os pontos turísticos da cidade estimulando o turismo. Essas atividades de visitação aos pontos turísticos e de restauração do patrimônio histórico, principalmente informais e não institucionalizadas, permitiram aos atores envolvidos aprender a gerenciar o patrimônio cultural, desde preservar e restaurar os recursos locais até promovê-los economicamente, com a ajuda financeira de instituições locais.

Também na Europa, Alemanha, os autores Mitzinneck e Besharov (2018) avaliaram como a German Renewable Energy Source Cooperatives (RESCoops) lida com os conflitos de interesse entre os diversos atores que compõem a organização, já que há interesses plurais em termos de dimensões sociais, econômicas e ambientais. Os autores verificaram a presença de estratégias de compromisso temporal, estrutural e colaborativo. Basicamente, é um processo de recompensa, onde os atores com valores econômicos cedem em projetos de baixo retorno econômico para serem recompensados no futuro (estratégia temporal) por projetos lucrativos, embora pouco atraentes em termos ambientais.

O estudo dessas pesquisas mostram que o Empreendedorismo Social procura combinar a criação de valor social com o valor econômico em uma mesma estrutura organizacional (PETRINI, SCHERER E BACK, 2016) por meio da geração de benefícios sociais tais como a contratação de trabalhadores locais e parcerias com fornecedores da comunidade.

As tendências do ES no pós-covid 19 são promissoras. Esses modelos de negócios apresentados acima tem algo em comum: estimula outros valores perdidos na sociedade do capital, como o gosto pelo trabalho útil ou o sentimento de aproximação com o produto final. No passado, quando um artesão fabricava seu produto, havia um prazer pela finalização de sua obra. Este artesão, por participar de todo o processo produtivo, sentia orgulho. Com a moderna administração científica, esse trabalhador se reduziu a um executor de tarefas, perdendo seu sentido. Empreendimentos sociais como La Paranza demonstram o quanto os trabalhadores podem sentir-se orgulhosos pelo que fazem quando participam de todo o processo produtivo..

É a devolução do prazer perdido no trabalho. A tendência é valores como estes se fortalecerem no pós-covid 19.