Estudos Baseados na Prática – EBP: o caso das empresas júniores


Por Jean Marcos da Silva

A dicotomia entre o papel da teoria e da prática para a construção da aprendizagem é uma realidade que desperta discussões entre professores, acadêmicos, profissionais e pesquisadores. As áreas de atuação profissional estimulam a mesclagem entre os conceitos teóricos e o convívio prático. Kolb (1984) resolve esta dicotomia afirmando que a aprendizagem é a compreensão e transformação da experiência. Esta concepção de aprendizagem possui fundamentos na abordagem sociológica. Este texto procura demonstrar uma aplicação dos conceitos de aprendizagem como fundamentos para justificar a relevância das empresas juniores para a aprendizagem com base na prática.

Na área de Administração, Gherardi é uma das entusiastas dessa forma de vislumbrar a aprendizagem. A questão chave da abordagem sociológica é a ideia de que o conhecimento não se localiza na mente dos indivíduos, mas é resultado de uma estrutura. Essas estruturas são formatos de interações sociais elaboradas pelo coletivo, onde há a presença de agentes humanos e não humanos se auto influenciando. Nessa perspectiva, a linguagem desempenha um papel crucial, uma vez que é através dela que haverá a interação (responsável pela aprendizagem) dos agentes na estrutura social. Sem a presença da linguagem, inexistiria interação.

Uma das grandes contribuições da abordagem sociológica é a comprensão de que a aprendizagem está na estrutura, no ambiente, e não na mente do indivíduo. Assim, a informação capaz de gerar a aprendizagem se desloca da mente do professor, se desprende da visão de transmissão de conhecimento para ocupar lugar numa estrutura social. Além disso, o conhecimento passa a ser dinâmico, modificando-se com a prática.

Essa abordagem norteia, então, os Estudos Baseados na Prática – EBP, tendo a autora Silvia Gherardi como uma das precursoras. De acordo com Bispo (2013), Gherardi foi a responsável em organizar, em 2000, uma coletânea de artigos que abordavam o tema.

No contexto da Administração, atualmente muitas instituições de ensino tem apostado na figura da Empresa Júnior como uma forma de proporcionar interações sociais entre os estudantes. A Confederação de Empresas Juniores (2012, p. 3) entende que a EJ é um ‘[...] grande laboratório prático do conhecimento técnico e em gestão empresarial’. Na ótica da Confederação uma EJ diferencia-se de estágios convencionais por possibilitar liberdade de reflexão sobre os processos empresariais possibilitando soluções criativas.

A vivência prática é apontada nos Estudos Baseados na Prática - EBP como uma variável importante no processo de construção do conhecimento. Esta conclusão, aliada ao interesse dos alunos em aprender práticas empresariais, atribui às Empresas Juniores conceitos da Teoria da Aprendizagem Experiencial - TAE, cujo pressuposto é o uso da experiência nas etapas do processo de ensino-aprendizagem.

Nesta concepção, a Empresa Júnior por ser uma aliada na promoção de uma aprendizagem baseada na prática, desde que promova uma aprendizagem coletiva integrada à prática; estimule negócios a assumirem postura sustentável; compartilhe experiência para aprender mais e melhor; e transforme o empírico em conhecimento científico a partir da aprendizagem coletiva.

REFERÊNCIAS

KOLB, D. (1984). Experiential learning. Englewood Cliffs. New Jersey: Prentice Hall.

BISPO, M. S. Aprendizagem organizacional baseada no conceito de prática: contribuições de Silvia Gherardi. RAM. Revista de Administração Mackenzie, v. 14, n. 6, p. 132-161, 2013.

GHERARDI, S. From organizational learning to practice-based knowing. Human relations, v. 54, n. 1, p. 131-139, 2001