Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, famosos ‘ODS’

Por Prof. Me. Jean Marcos da Silva e Lívia Roberta Bruch


De acordo com Caiado et al. (2018), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) acordados pelos Chefes de Governo de diversos países em 2015 representam um grande esforço multilateral para mudar o mundo para caminhos mais sustentáveis ​​e resilientes, levando também em consideração as necessidades dos países em desenvolvimento. Caiado et al. (2018) apresentaram uma revisão abrangente da literatura e desenvolveram uma nova estrutura para enfrentar as barreiras e desafios para operacionalizar e monitorar a implementação dos ODS. Assim, o artigo analisa problemas de implementação dos ODS, bem como descreve a lógica e desafios de implementação desses objetivos.

Este artigo de Caiado et al. (2018) descreve o conceito de sustentabilidade, em 1987, em um documento chamado Nosso Futuro Comum, como uma forma de ‘[...] atender às necessidades da geração atual sem prejudicar a capacidade da geração futura de atender às suas”. Atualmente o conceito se expandiu para incluir a noção de um desenvolvimento que pensa as dimensões ambientais, econômicas e sociais. Essa ampliação contribui para incluir um compromisso centrado nas questões sociais, nas pessoas. Por meio de uma revisão da literatura em plataformas como Electronic Databases (EDs), Elsevier (sciencedirect.com), Scopus (scopus.com) e Springer (springerlink.com), bem como de uma entrevista trabalhando com a metodologia de grupo focal, os autores constroem uma extensiva revisão da literatura sobre a temática da sustentabilidade.

Ao mencionar os ODS, Caiado et al. (2018) apontam 17 ações definidas em 2015 na Rio+20, no Rio de Janeiro, quais sejam: erradicar a pobreza, atingir fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, água potável e saneamento, energia acessível e limpa, trabalho decente e crescimento econômico, indústria, inovação e infraestrutura, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, consumo e produção sustentáveis, ação contra a mudança global do clima, vida na água vida terrestre, paz-justiça-instituições eficazes, parcerias e meios de implementação.

Os resultados da pesquisa de Caiado et al. (2018) apontaram, por meio das entrevistas dos grupos focais, a existência de uma Ciência da Sustentabilidade que deve ser construída com base em: (i) investimento em educação e informação, (ii) liderança e governança política, (iii) compromisso e parceria globais integrados, (iv) soluções inovadoras e (v) indicadores agregados e confiáveis são pontos críticos alcançar efetivamente os ODS.

Com isso, Caiado et al. (2018) concluíram que seria possível aprender algumas lições para a implementação de tais objetivos definidos em 2015 que foram construídos com um caráter mais colaborativo e participativo, com menos tolerância para questões burocráticas, características presentes na ideia de sustentabilidade definidas no documento Nosso Futuro Comum. Os autores apontam três estratégias para implementação dos ODS: 1) disseminação generalizada desses objetivos da consciência social, envolvendo a sociedade civil e o setor privado; 2) definição de um grupo de metas nacionais visando gestão e eficiência; e 3) os relatórios de acompanhamento das metas precisam mensurar o nível de implementação das metas, não apenas descrever a realização ou não de tais ações. Por fim, os autores concluíram sobre as dificuldades de implementação dos ODS. A estrutura apresentada no artigo pode contribuir para a consecução dos ODS.

Com o objetivo de operacionalizar a utilização dos ODS no planejamento dos negócios, algumas ferramentas têm sido desenvolvidas nesse sentido. Por exemplo, O SDG Compass, desenvolvido pela Global Reporting Initiative (GRI), Global Compact da ONU (UNGC) e Conselho Empresarial Mundial de Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), fornece um processo genérico de cinco etapas para as empresas aplicarem os ODS no planejamento de negócios. Com base no SDG Compass, também se mostra bastante interessante o estudo de Muff et al. (2017), com a ferramenta GapFrame que tem como propostas traduzir os ODS em ações relevantes para diferentes países e para ser usado como ferramenta estratégica de negócios e como uma ferramenta educacional para escolas de negócios. O GapFrame utiliza o conceito de “espaço operacional seguro” dentro do qual a humanidade deve operar, bem como certos níveis mínimos de requisitos sociais para garantir que todos os 9 bilhões de cidadãos possam viver bem no único planeta que temos. Assim, o objetivo do GapFrame seria destacar a maior lacuna ou problema para um país se concentrar dentro das quatro dimensões de sustentabilidade (planeta, sociedade, economia, governança), prevendo que isso pode motivar um país a dar um salto quântico de onde está e para onde precisa estar.

Em termos de desempenho país a país, a avaliação realizada por Muff et al. (2017) com o uso do GapFrame mostra que há uma indicação de que quanto menos desenvolvido é um país, problemas mais ameaçadores ele enfrenta, o que impede que todo o planeta esteja em um espaço seguro. A avaliação também indica que o desenvolvimento em si não é a resposta, pois nenhum dos países mais desenvolvidos está no espaço seguro com todas as suas dimensões de sustentabilidade. Analisando os países individualmente, nota-se que um nível crescente de desenvolvimento parece estar correlacionado positivamente com uma capacidade crescente de abordar as questões de sustentabilidade.

De acordo com Muff et al. (2017) uma forte sustentabilidade, como usada no GapFrame, exige que cada país mova todos os seus indicadores em todas as quatro dimensões da sustentabilidade para um espaço seguro para todo o planeta. Ele fornece uma perspectiva distintamente diferente, destacando o fato de que questões urgentes que representam uma ameaça à humanidade são tão prevalentes nos países desenvolvidos, nos países em desenvolvimento e nos menos desenvolvidos. A perspectiva do GapFrame mostra que enquanto os países da OCDE precisam abordar com mais urgência questões ambientais, o mundo em geral sofre mais com questões sociais e de governança. Para transformar essas questões prioritárias em oportunidades reais de negócios, as empresas e as várias partes interessadas podem consultar a análise do GapFrame para cooperar na tradução desses problemas em oportunidades de negócios a longo prazo que Dyllick & Muff (2016) chamam de verdadeira sustentabilidade dos negócios. O trabalho ainda propõe a utilização da ferramenta em um contexto educacional, pode ser usado para envolver estudantes de todo o mundo para identificar os problemas de seu país de origem e como uma maneira de entender melhor as diferentes economias e estados de desenvolvimento econômico em todo o mundo. O GapFrame.org fornece acesso gratuito ao resultado desse esforço de pesquisa multissetorial, abrangendo 155 países e 24 Grandes Desafios, incluindo prioridades nacionais.

Outra abordagem que se mostra bastante válida é a estratégia baseada em práticas de Economia Circular (Em inglês, Circular Economy - CE) para a implementação dos ODS, visto que CE vem ganhando força como uma abordagem para alcançar a sustentabilidade local, nacional e global. Schroeder et al. (2018) examinam a relevância da abordagem da CE para alcançar os ODS nos países em desenvolvimento. A questão de pesquisa abordada neste artigo é: até que ponto as práticas de CE são relevantes para a implementação dos ODS? Para responder a essa pergunta, os autores adotaram os 17 objetivos e 169 metas estabelecidas no documento “Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” (ONU 2015) e combinaram essas metas com as práticas de CE identificadas pelas instituições acadêmicas e literatura não acadêmica sobre CE. Por meio dessa análise, foram identificadas as possíveis contribuições das práticas de EC para esses alvos específicos dos ODS.

A literatura sugere que as abordagens da CE podem trazer benefícios importantes de economia de custos, criação de empregos, inovação, produtividade e eficiência de recursos nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. A CE pode, potencialmente, resolver desafios ambientais e de desenvolvimento relacionados ao consumo excessivo de recursos nos níveis global e local. A literatura sobre a implementação dos ODS refere-se a sinergias, complementaridades e potenciais trade-offs (perde-ganha) entre cada um dos ODS. Os resultados de Schroeder et al. (2018) sugerem que as práticas da CE têm o potencial de lidar com compensações, por exemplo, entre o ODS 8, visando o crescimento econômico e o ODS 9, promovendo a industrialização e a infraestrutura, versus a necessidade de proteção climática no ODS 13 e biodiversidade no ODS 15. Ao mesmo tempo, as práticas de CE podem, potencialmente, criar compromissos adicionais entre os objetivos dos ODS. Os resultados deste estudo sugerem que as práticas de CE e os modelos de negócios relacionados podem ajudar a alcançar vários dos objetivos dos ODS. Eles contribuem diretamente para alcançar 21 das metas e indiretamente para outras 28 metas estabelecidas nos ODS.

Seguindo as pesquisas sobre os ODS, Salvia et al. (2018) identificaram os principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável abordados por especialistas de diferentes regiões geográficas, de acordo com sua experiência e área de pesquisa, e discutir a relação entre esses objetivos e os principais problemas e desafios locais de cada região. Os autores, assim como Caiado et al. (2018), fazem referência aos antecedentes dos ODS, contudo o foco das pesquisadores é verificar quais, dentre os 17 objetivos, despertam mais o interesse na literatura. Por meio de uma entrevista com 266 especialistas espalhados por todos os continentes do mundo, Salvia et al. (2018) verificaram que na América do Norte e na América Latina, os ODS de maior interesse são: cidades e comunidades sustentáveis, ação climática, vida na terra e educação de qualidade.

Já na Europa, Salvia et al. (2018) apontaram os ODS educação, comunidades sustentáveis, Consumo e Produção Responsáveis, e mudanças climáticas. Percebe-se que comunidades sustentáveis e mudanças climáticas também aparecem na América, mas a diferença os ODS mais citados na Europa não apresentam grandes discrepâncias entre si, como na América. Além disso, na América, a aparece a vida na terra como um dos objetivos de desenvolvimento sustentável mais citados como interesse de pesquisa. Esse é o ODS 15 e está atrelado ao cuidado com as florestas.

Na Oceania, conforme verificaram Salvia et al. (2018), o ODS de maior interesse foram água limpa e comunidades sustentáveis. Na África, por outro lado, aparece fome zero e a erradicação da pobreza. Na Ásia prevaleceu Paz, Justiça e Instituições Fortes. Enfim, nota-se que o interesse dos pesquisadores está em sintonia com as demandas mais marcantes da erradicação, como preocupação com as florestas na América e o combate à pobreza na África. Observando-se com um olhar em termos de mundo, os ODS: Trabalho decente e crescimento econômico, vida embaixo da água e paz, justiça, instituição fortes foram os menos citados como interesse de pesquisa. Ao passo que os ODS: educação de qualidade, cidades e comunidades sustentáveis e mudanças climáticas estão entre os mais citados.

Conclusão

Os 17 ODS são objetivos globais com a meta de "não deixar ninguém para trás", abordando principalmente (mas não exclusivamente) questões sociais no hemisfério Sul. A história mostra que problemas perversos como fome, pobreza, desigualdades ou ação climática não podem ser resolvidos através do estudo do problema e é necessária uma nova abordagem para encontrar soluções, que devem servir não apenas a alguns atores, mas a todo o interesse global. Tais métodos requerem visões futuras positivas que não podem ser encontradas apenas nos ODS, mas em análises e ferramentas que avaliam holisticamente e de forma inovadora as questões prementes da Agenda Global.

REFERÊNCIAS

CAIADO, R. G. G.; FILHO, W. L.; QUELHAS, O. L. G.; NASCIMENTO, D. L. M.; ÁVILA, L. V. A literature-based review on potentials and constraints in the implementation of the sustainable development goals. Journal of Cleaner Production, v. 198, 2018.

DYLLICK, T., & MUFF, K. Clarifying the Meaning of Sustainable Business: Introducing a Typology From Business-as-Usual to True Business Sustainability. Organization & Environment, v. 29, 156-174. 2016.

MUFF, K., KAPALKA, A., & DYLLICK, T.. The Gap Frame - Translating the SDGs into relevant national grand challenges for strategic business opportunities. The International Journal of Management Education. 15, 363-383, 2017.

SALVIA, A. L.; FILHO, W. L.; BRANDLI, L. L.; GRIEBELER, J. S.; Assessing Research Trends Related To Sustainable Development Goals: Local And Global Issues, 2018.

SCHROEDER, P., ANGGRAENI, K., & WEBER, U.. The Relevance of Circular Economy Practices to the Sustainable Development Goals. Journal of Industrial Ecology. 2018.

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