Teóricos-clássicos da Administração: para além do que dizem os livros didáticos


Por Prof. Me. Jean Marcos da Silva


Os teóricos-clássicos da administração são estudiosos amplamente conhecidos na área, tais como Maslow, que escreveu sobre a teoria da motivação; McGregor, criador do conceito de teoria x e y; Herzberg, com a sua teoria dos dois fatores. Sutton e Staw (1995) definem os clássicos como um livro que as pessoas admiram, mas não leem. Contudo, ao contrário disto, muitos livros da Administração são muito citados e lidos, mas tais referências não dizem muito sobre seus autores ou sobre o contexto vivido por estes. Quais implicações isto tem para os alunos e gestores contemporâneos?

O contexto histórico é tão relevante que chega ao ponto de definir os temas que serão estudados em uma determinada época. Por exemplo, temas como gestão da qualidade total e reengenharia de processos foram imediatamente inseridas em livros de negócios com bastante aceitação pelos estudiosos, ao passo que outros temas como os feministas levaram décadas para serem inseridos como interesses de estudo. Isto se explica, em parte, pela sociedade machista em que vivemos. Eis a interferência do contexto histórico.

Dye et al. (2005) considera Maslow como um homem interrompido nos livros didáticos por serem obras que focam demasiadamente na teoria das nacessidades do autor, deixando de lado outros aspectos. Entre os quais, pode-se destacar a própria visão de Maslow sobre o papel da mulher no ambiente de trabalho. As anotações encontradas indicam que o autor possuía uma visão focada no homem alto, branco e de olhos azuis. Como se nota a obra de Maslow poderia ter sido muito mais do que uma prioridade de necessidades de cinco níveis, se não tivesse sido interrompido pelos estudiosos de sua obra.

A leitura de Maslow interage inclusive com a proposta de Marx de igualdade de oportunidades para todos (DYE et al., 2005). Certamente, considerando uma hierarquia de necessidades em que primeiro é preciso atender demandas fisiológicas básicas, para então os desejos mais superiores, como de auto-realização, fica evidente que Maslow vai defender princípios de igualdade. Contudo, essa visão marxista não aparece nos livros didáticos com muita frequência.

Maslow era um pensador complexo. Ele despertou interesse do FBI por assinar um apelo para revogar a Lei de Segurança Interna que tornava o Partido Comunista ilegal. E ao mesmo tempo condenou os movimentos antiguerra durante a guerra do Vietnã. Ele argumentou que os manifestantes antiguerra deveriam ser trancados e a chave jogada fora (DYE et al., 2005).

Bruce e Nyland (2011) também aponta essa falta de uma abordagem histórica nos estudos de Elton Mayo com a sua teoria das Relações Humanas. Os autores apontam que os livros didáticos das escolas de administração quando abordam Mayo apenas citam que o pesquisador descobriu o empregado como um ser grupal, que reage como um membro de uma equipe e não como indivíduo isolado. Citam também a experiência de Hawthorne como lócus das descobertas do autor, mas poucas linhas são dedicadas ao contexto histórico de Elton Mayo. E quando isso acontece, no máximo, vem em forma de apêndice sugerindo que o estudante pode ler ou não.

Cummings et al. (2011) também defende o estudo histórico para desenvolver uma pensamento crítico sobre a teoria weberiana. Nota-se que a própria teoria de Weber assim como influenciou os clássicos como Herzberg e Simon também vai receber interferências. Contudo, nossos livros didáticos não mostram o que e como essa interferência ocorre. Se tivéssemos tais abordagens seria possível, por exemplo, ajudar os alunos a desenvolverem uma visão mais igualitária e humana da burocracia de Weber.

O convite aqui neste texto é para começarmos a vislumbrar além do que dizem os livros didáticos. Começarmos a fazer uma observação crítica do contexto histórico dos teóricos-clássicos da administração. Isto terá implicações na prática profissional e acadêmica dos estudos em administração. Ao invés de lutar contra as teorias, por exemplo, apontando que a burocracia como conceito teórico e prático é ‘boa’ ou ‘má’, o que apenas serviria para fortalecê-la por serem conclusões execessivamente simplistas da realidade.

Por fim, a história realmente importa por nos ajudar a entender o presente. É pouco inteligente excluirmos o contexto histórico de nossos teórico-clássicos da administração, ou estudar suas teorias de forma desvinculada da história, pois isto limita nossa auto-consciência e encorajamento.

REFERÊNCIAS

BRUCE, K. NYLAND, C. Elton Mayo and the Deification of Human Relations. Organization Studies, v. 32, n. 3, p. 383-405, 2011.

CUMMINGS, S.; BRIDGMAN, T. The relevant past: Why the history of management should be critical for our future. Academy of Management Learning & Education, v. 10, n. 1, p. 77-93, 2011.

DYE, K.; MILLS, A. J.; WEATHERBEE, T. Maslow man interrupeted – reading management theory in context. Management Decision, v.43, n.10, p.1375-1747, 2005.

Robert I. Sutton; Barry M. Staw. What Theory is Not. In. Administrative Science Quartely, v. 40, n. 3, 1995.

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